Não foi fácil entrar na Academia da Força Aérea…

Por: Fábio Ferreira

“Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida. Que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança.” (Gedeão, 1956). De facto, tudo começou com um sonho, um objetivo, mas o mais importante foi nunca desistir de o realizar!

Como cadete da Academia da Força Aérea, jurar bandeira perante os meus familiares e amigos e voar sozinho nos céus de Sintra foram momentos únicos na minha vida, e acredito que na vida de qualquer cadete-aluno Piloto Aviador!

Lembro-me como se fosse ontem o dia em que fiz a minha primeira candidatura à Academia da Força Aérea. Estávamos em 2011, o Secundário tinha acabado há pouco e as incertezas eram bem maiores do que as certezas. Nunca mais esqueci a imagem do piloto de F-16, equipado para voo, no antigo website do Centro de Recrutamento, onde preenchia os meus dados e escolhia que PILAV era a minha primeira opção. Infelizmente nesse ano o meu percurso na FAP ficara por ali, pois dado o número de candidaturas e as médias a concurso não fui convocado para prestar provas. Fui, entretanto, convocado para prestar provas na Academia Militar, tendo ficado apto em todos os testes, concluído a Prova de Aptidão Militar e conquistado uma vaga na AM, mas o sonho de ser piloto aviador militar falou mais alto e abdiquei da vaga, certamente para alguém que a desejava mais do que eu, para poder concorrer novamente para PILAV na AFA no ano seguinte.

Um ano depois, em 2012, nova candidatura para Piloto Aviador na Academia da Força Aérea e, novamente, o verão passava sem chegar a convocação para ir a provas. Já a antever um desfecho como o do ano anterior, eis que em pleno Agosto um telefonema completamente inesperado vem informar que no dia seguinte teria de estar no ainda Hospital da Força Aérea, no Lumiar, Lisboa, para começar os testes para concurso à AFA. A partir daí tudo passou para segundo plano, pois a prioridade era apenas o concurso.

14 de agosto de 2012 começam os testes psicotécnicos e, por dia 15 ser feriado, só terminaram no dia 16, mas da melhor maneira possível, pois foi com aptidão. Logo o dia seguinte começam os testes médicos e a cada exame que fazia a ansiedade e o medo de ficar para trás no concurso aumentavam.

Passaram-se 4 longos dias de testes médicos. Estamos a 23 de agosto, é o dia da decisão final do júri da parte da medicina aeronáutica. Após várias horas de espera eis que chega a aptidão médica para a pilotagem e seguem-se agora os testes físicos. Passagem do pórtico, salto do muro, salto da vala, flexões de braços, abdominais e 2400 metros de corrida, era isso que me separava de, logo nesse dia, ir para Sintra e começar o Estágio e Seleção de Voo. Superei todas as provas físicas, e logo ao início da tarde fui para Sintra, para a Academia da Força Aérea.

Das melhores recordações que tenho foi a primeira vez que vi ao vivo o T-38 Tallon Azul em frente ao edifício do comando, chegado à Academia da Força Aérea!

Mal chegámos à AFA começaram as aulas teóricas, que nesse dia duraram até bem perto da meia noite. No dia seguinte já se praticavam os horários da Academia e as 7h30 tomava-se o pequeno almoço para às 8h00 começarem novamente as restantes aulas teóricas. Foram dois dias intensos, mas a seguir veio o fim de semana para rever tudo o que foi aprendido e estudar o máximo possível, pois na segunda-feira era o teste teórico, e para se poder ir voar era necessário passar na teoria.

Nesta fase do concurso, praticamente todos os candidatos já demonstram vontade em pertencer à instituição e por isso as taxas de reprovação no teste teórico tendem a ser baixas. No nosso grupo ninguém ficou para trás devido à teoria, também porque a seguir vinha a melhor parte, o voo.

Foram provavelmente os melhores 7 voos de todos os que já fiz, numa fase em que o nível de exigência não se igualava ao da Academia. Por ser uma prova adaptada à inexperiência dos candidatos, foram tempos em que se aproveitou bastante o voo! Duas semanas depois, com o ESV chegado ao fim, vinha a Prova de Aptidão Militar (PAM).

É na PAM que são testadas as capacidades militares dos candidatos e a sua verdadeira vontade de pertencer à Academia da Força Aérea. Entrar na AFA era aquilo que eu mais queria, por isso a minha motivação nunca foi fator de preocupação, e provavelmente devido a isso, apesar de todo o desgaste físico associado, retirei bastante positivismo da PAM, principalmente o sentimento de camaradagem, espírito de corpo, entreajuda e sobretudo de dever cumprido.

Infelizmente após todo este percurso o meu nome não ficou entre as 12 vagas para PILAV, devido à ordenação final dos candidatos segundo as notas de acesso ao ensino superior, e não entrei na AFA. Concorri ao ensino superior e entrei em Engenharia Aeronáutica na Universidade da Beira Interior (UBI).

Um ano depois, no final do primeiro ano de universidade, e após uma tentativa de melhoria dos exames nacionais do secundário que acabou por ser infrutífera devido à fase de exames ser coincidente com a fase de final de semestre académico, concorri pela 3ª vez à Academia da Força Aérea, para Piloto-Aviador. Novamente sujeito a todos as provas de seleção, excluído o estágio e seleção de voo por este ter validade de 2 anos e o ter completado no ano anterior, cheguei novamente ao final da PAM e novamente vi o meu nome fora das vagas, desta vez apenas a 2 lugares de entrar. Começava a ser difícil acreditar que algum dia poderia vir a ser piloto aviador na Força Aérea Portuguesa…mas não podemos perder o ânimo, até porque vinha aí o 2º ano de Engenharia Aeronáutica, mais exigente ainda que o anterior.

Findo o 2º ano de Aeronáutica, em 2014, e após ter melhorado o exame de nacional de Matemática A, chega a altura de concorrer pela última vez. Seguiram-se novamente testes físicos, psicotécnicos e médicos, nesse ano por esta ordem, e após isso o 2º Estágio e Seleção de Voo e a 4ª Prova de Aptidão Militar, em que no início ainda estava fora das vagas. A PAM foi decorrendo e no dia 14 de setembro, após algumas desistências o meu nome entrou nas vagas para PILAV. Acho que na altura não me acreditei e preferi esperar para ter a certeza no fim da prova. Era mesmo verdade, dia 19 de setembro acaba a PAM e eu tinha concretizado o meu maior objetivo, entrar na Academia da Força Aérea para Piloto Aviador!

A vida recomeça, nova rotina, novas e crescentes responsabilidades, contudo só poderemos ser verdadeiramente chamados de Pilotos Aviadores após o último ano da AFA, certamente o mais importante, o ano do tirocínio.

Todos temos sonhos e objetivos na vida, no entanto há algo que se fizermos é garantido que nunca os vamos atingir, desistir. A todos os que seguem um sonho na vida, nunca deixem de lutar por ele, porque não há dúvida que temos O Futuro nas nossas mãos, o céu aos nossos pés!.

Fábio Ferreira

Hurakans

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